terça-feira, 1 de abril de 2008

Uma nova cultura esportiva


No mundo inteiro, dentro de campo, os técnicos adeptos do novo futebol já organizam suas equipes de acordo com o modelo da polivalência do pós toyotismo japonês: exige que os jogadores sejam comprometidos com as metas a serem alcançadas pelo time e capazes de atuarem em várias posições, que ataquem quando têm a bola e defendam no momento em que a posse de bola esteja com o adversário. O modelo rompe com a velha cultura do jogador responsável, apenas, pela sua faixa de atuação.

Fora de campo, os cartolas do futebol brasileiro ainda se apegam a velha cultura do modelo fordista taylorista, de produção e organização do trabalho em série, burocratizado e patrimonialista, presos ao marco regulatório da legislação getulista, aprovada em plena ditadura do Estado Novo, entre os anos 1937 e 1945. É neste período que são organizadas as Federações e Conselho de Desportos (CDN). Coincidentemente, é também durante o período da Ditadura Militar, entre os anos de 1964 e 1985, que são instituídas as normas gerais disciplinadoras sobre todos os esportes em nosso país, fortalecendo este modelo de gestão, no qual as decisões sempre são tomadas de forma unilateral, autoritária e de poder concentrado na figura do presidente.Mas, graças à mobilização da sociedade e a Constituição de 1988 (que este ano faz vinte anos de sua promulgação), há a ruptura com o conservadorismo, sempre presente nas constituições e legislação anteriores, em que o esporte foi sempre tratado de forma superficial e atrelado às intervenções do Estado, onde em seus artigos 5º e 217º, a nossa Constituição trata de normatizar e regular a prática desportiva no Brasil. Vale ressaltar o veto feito pela lei de qualquer espécie de ingerência do Estado, assegurando a autonomia da sociedade civil, sem fins lucrativos. Porem, muitos dirigentes e gestores públicos ainda não se aperceberam dessas mudanças ocorridas e tentam insistir nas velhas práticas da ingerência.

Da Lei Pelé (Lei 9.615/98), que entrou em vigor a partir de 26 de março de 2001, mesmo sob forte protesto dos cartolas, destaca-se a instituição do fim do passe livre, atendendo mobilização dos jogadores profissionais de futebol, lei que transformou a relação de formação de atletas e a relação de trabalho. Muitos ainda não perceberam as grandes oportunidades que descortinou com estas mudanças.

Outra inovação, trazida pelo legislador, na busca em modernizar a gestão do futebol profissional e pôr fim ao mandonismo e amadorismo na gestão das instâncias superiores e associações desportivas, é a obrigatoriedade em publicar as suas demonstrações contábeis e balanços, elaborados por auditores independentes, conforme o art. nº.1º da medida provisória n.º 193/2001. A mesma lei prevê a punição aos dirigentes que descumprirem a norma.

Todas estas novas competências e responsabilidades foram criadas objetivando proporcionar novas possibilidades aos dirigentes e clubes, em busca de uma administração moderna, profissional, transparente, focada em resultados e capaz de fomentar oportunidades de negócios com os setores da mídia, através do licenciamento de marcas, merchandising, sócio torcedor, dentre outras iniciativas, capazes de multiplicar o faturamento dos clubes, sem contar o desenvolvimento econômico-social em toda a cadeia produtiva do futebol. Creio, que para ser grande, não apenas no tamanho ou na quantidade, mas sim em qualidade, é preciso que todos os dirigentes de clubes, federações e confederações, se apropriem dessas novidades previstas na legislação, na ciência da gestão científica e planejada, rompendo com os velhos costumes. Isso pode se, para muitos, um caminho doloroso, entretanto, só assim teremos um futebol organizado e forte, em todos os cantos do Brasil.


Por Eduardo Moraes

Vice-Presidente do Esporte Clube Vitória da Conquista

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