quarta-feira, 2 de abril de 2008

Vitória da Conquista dribla norma da CBF e vira sensação na Bahia


Com pouco mais de três anos de idade, o Clube Primeiro Passo Vitória da Conquista já faz sombra em grandes.


De acordo com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), uma cidade só pode registrar um time de futebol a cada 100 mil habitantes contados pelo IBGE. Com pouco mais de 308 mil moradores, a cidade de Vitória da Conquista, no centro-sul baiano, já registrou os três clubes a que tinha direito: Serrano, Serranense e Conquista Futebol Clube.

Pela Federação Bahiana de Futebol (FBF) conseguiu convencer a CBF de que mais um time deveria ser admitido no município, apesar da violação formal à regra. Assim foi registrado nacionalmente o Esporte Clube Primeiro Passo Vitória da Conquista em 21 de janeiro de 2005.

Em apenas três anos, o clube disputa o título estadual. Terminou a fase classificatória do Campeonato Baiano em segundo lugar, com 48 pontos, dois a menos que o líder Bahia, com aproveitamento de 72%.

O projeto "Primeiro Passo" foi criado em 2001 pelo mineiro Ederlane Amorim, ex-jogador de futebol revelado pelo Bahia de Guimarães, de Vitória da Conquista, e que voltou à cidade após encerrar a carreira em Goiás. Começou com um programa social que ensinava futebol a garotos entre 15 e 18 anos. As revelações disputaram torneios na região e foram descobertos por outras equipes.

Na época desprezava o futebol diante das experiências fracassadas das antigas equipes. "O futebol em Conquista não tinha mais nenhum respeito. As pessoas não acreditavam, a torcida não ia ao estádio. Estava completamente distante da comunidade", lembra Amorim.

Mas os títulos conquistados pelo time recém-formado foram chamando a atenção das pessoas, e especialmente dos empresários, que passaram a se interessar em fazer parcerias com a equipe. Foi quando o clube passou a se chamar Associação Desportiva Primeiro Passo e decidiu se registrar na CBF. A autorização só foi alcançada com o apoio do presidente da FBF, Ednaldo Rodrigues, que convenceu os dirigentes nacionais da seriedade da proposta em Conquista.

A equipe partiu então para a projeção estadual. Em 2006, o elenco júnior conquistou o vice-campeonato baiano no primeiro semestre do ano, derrotado pelo Real Salvador na final. Nos segundo semestre, conquistou o título da segunda divisão profissional e desde 2007 disputa o Campeonato Baiano. Grato à cidade que o abrigou, o clube mudou mais uma vez de nome: Esporte Clube Primeiro Passo Vitória da Conquista.

Em comum a todas as alcunhas está o nome do projeto inicial, do qual o presidente do clube não abre mão. "Não poderemos ir a lugar nenhum sem darmos o primeiro passo. Por isso, ele sempre ficará no nome do time", argumenta Amorim. A inclusão do nome da cidade se deve ao apoio da comunidade, que comparece em massa ao estádio Lomanto Júnior nos dias de jogos da equipe, e já deu ao clube a maior média de público do torneio: 8 mil pessoas.

A renda dos jogos, somada ao crescente investimento empresarial, devem ajudar o Vitória da Conquista a construir um centro de treinamentos no ano que vem. Atualmente, o elenco treina no estádio em que joga e usa a sede do time - um edifício de quatro andares - como concentração e centro administrativo.

Amorim estuda uma parceria com a prefeitura da cidade para o arrendamento de um terreno que permita a construção de quatro campos de treinamento.


Quadrangular Final e Série C


Ederlane Amorim acredita que o Conquista pode não só fazer como o Colo-Colo em 2006, que quebrou 26 anos de hegemonia da dupla Ba-Vi e sagoru-se campeão estadual, mas também realizar uma grande campanha na Série C e conseguir o acesso no final do ano. "Nosso objetivo é a Série B. A equipe tem todas as condições de disputar qualquer campeonato. Além disso, temos contrato com todos os jogadores pelo menos até o final do ano, o que vai manter o elenco inalterado para a competição", planeja ambicioso o presidente do clube.

Para o técnico Elias Borges, que dirige o time desde a fundação, o trabalho psicológico foi fundamental para a posição atual da equipe no futebol da Bahia. "Fiz com que os jogadores soubessem que eles podem enfrentar qualquer time grande, que os atletas de outras equipes não têm nada de especial que os faça imbatíveis", revela.

O trabalho com a mente do grupo se juntou à base de mais de três anos e resultou numa equipe entrosada, que tem o segundo ataque mais positivo da competição. "Superar o medo das equipes grandes foi o vestibular deles. Agora, estão totalmente preparados para a Série C", garante Borges. Mesmo assim, o treinador reconhece que a chegada de pelo menos mais seis reforços para o time vai trazer mais qualidade para o grupo, que deve encontrar muitos campeões estaduais no torneio nacional, que começa em julho.

Para vencer o Baianão, tanto técnico quanto presidente apostam na união do time e na presença da torcida. Caso termine a fase de classificação na vice-liderança, o Conquista abre a fase final jogando contra o Bahia em casa, o que deve garantir a lotação máxima do Lomanto Júnior: 15 mil pessoas. O Conquista já soma até mesmo duas torcidas organizadas: a Kriptonita e a Gaviões do Juremi.

Elias Borges aponta o volante Cléber, o atacante Tatu e o meia Rafael como os grandes destaques do time no Campeonato Baiano. O último já chegou a ser sondado pelas equipes da capital, mas o presidente não confirma assédios diretos ao Conquista. "Atualmente, muitos empresários do futebol perceberam o talento de nossos atletas e querem leva-los para outras equipes. Eu não pretendo desmembrar o time logo agora, a não ser que seja uma oportunidade financeira muito boa."O presidente do clube aconselha os adversários e ensina a fórmula do sucesso no futebol. "Para mim, a perseverança, a transparência e a honestidade são o que fazem a diferença. É preciso sempre acreditar que é possível". O que certamente significa muito trabalho. Tanto que, em 2007, o técnico precisou fazer uma cirurgia no coração e ficou o resto da temporada afastado. Até mesmo o próprio Ederlane Amorim e o vice-presidente Antônio Eduardo Moraes já precisou fazer um cateterismo. Tudo para levar adiante um sonho que, pelo menos até agora, vem dando certo.


Por Lucas Esteves

especialmente para o Pelé.Net

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